Um dia em seguida o maior ataque à democracia brasileira, o 9 de janeiro de 2023 também tem uma história para ser contada. Aquela segunda feira, há um ano exatamente, foi marcada pela reação das autoridades e instituições do país à invasão das sedes dos Três Poderes e à depredação do patrimônio público.
O retiro de um governador, prisões de centenas de golpistas e uma estirão para reafirmação do Estado Democrático e Recta. Essa foi a forma da democracia se mostrar firme e intocada, mesmo em seguida tantas ameaças no dia anterior.
>> Veja aquém alguns dos principais fatos do 9 de janeiro:
Encolhimento do governador do DF
Logo nas primeiras horas do dia, ainda na madrugada, o ministro do Supremo Tribunal Federalista (STF), Alexandre de Moraes, determinou o retiro de Ibaneis Rocha do função de governador do Região Federalista pelo prazo de 90 dias.
Na decisão, Moraes argumentou que Ibaneis Rocha e Anderson Torres, logo secretário de Segurança Pública do DF e que tinha sido exonerado ainda no dia 8, foram omissos diante dos ataques ao Palácio do Planalto, Congresso Pátrio e o STF. Disse o magistrado em sua decisão:
“O descaso e a conivência do ex-ministro da Justiça e Segurança Pública e, até logo, secretário de Segurança Pública do Região Federalista, Anderson Torres – cuja responsabilidade está sendo apurada em petição em separado – com qualquer planejamento que garantisse a segurança e a ordem no DF, tanto do patrimônio público – Congresso Pátrio, Presidência da República e Supremo Tribunal Federalista – só não foi mais acintoso do que a conduta dolosamente omissiva do governador do DF, Ibaneis Rocha, que não só deu declarações públicas defendendo uma falsa ‘livre sintoma política em Brasília’ – mesmo sabedor, por todas as redes, que ataques às instituições e seus membros seriam realizados – uma vez que também ignorou todos os apelos das autoridades para a realização de um projecto de segurança semelhante ao realizado nos últimos dois anos, em 7 de setembro em privativo, com a proibição de ingresso na Esplanada dos Ministérios pelos criminosos terroristas; tendo liberado o extenso aproximação”.
Em vídeo divulgado na noite de 8 de janeiro, Ibaneis Rocha pediu desculpas aos chefes dos Três Poderes e afirmou que não imaginou a proporção que os atos antidemocráticos tomariam.
Prisões no acampamento
O ministro do STF determinou ainda a desocupação, em 24 horas, do acampamento montado em frente ao Quartel General do Tropa, de onde partiu a maior segmento dos envolvidos nos ataques de 8 de janeiro. Quem resistisse à ordem poderia ser recluso em flagrante.
A Polícia do Tropa e a Polícia Militar do Região Federalista foram responsáveis pela desocupação e prenderam pelo menos 1.200 pessoas no acampamento, montado desde o término das eleições presidenciais do ano pretérito por apoiadores de Jair Bolsonaro que não aceitavam o resultado das urnas.
Polícia e Tropa se concentram na frente do QG do Tropa para desmobilização de acampamento de bolsonaristas – Marcello Parelha JrAgência Brasil
O ministro da Resguardo, José Múcio, e o ministro-chefe da Morada Social, Rui Costa, acompanharam a retirada do acampamento. Foi o desmonte do núcleo golpista presente na Esplanada no dia anterior.
Ao apresentar relatório sobre o incidente no final de janeiro, o interventor na segurança pública do DF, Ricardo Cappelli, disse que em seguida a posse do presidente Lula, houve uma redução no número de acampados, mas que o quantitativo voltou a crescer na antevéspera dos ataques terroristas.
“As investigações vão expressar se isso foi uma tática para despistar ou o que foi que houve. Mas o trajo é que no dia seguinte [à posse] o acampamento sofre um processo de desmobilização e quando chega no dia seis e sete ele explode novamente e chega a ter ali concentrações de em torno de 4 milénio pessoas no dia 7 de janeiro”, afirmou.
Mediação aprovada
Na noite de segunda-feira, a Câmara dos Deputados aprovou a mediação federalista na segurança pública do Região Federalista, que havia sido decretada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva no domingo (8), mas precisava da confirmação das Casas Legislativas.
O texto foi reconhecido em votação simbólica pelos deputados federais. No dia seguinte, 10 de janeiro, o Senado confirmou a mediação federalista.
Secretário-executivo do Ministério da Justiça, Ricardo Cappelli foi nomeado o interventor, passando a ter controle de todos os órgãos distritais de segurança pública no período.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, governadores e autoridades cruzam a Terreiro dos Três Poderes para visitar as instalações da sede do Supremo Tribunal Federalista (STF) um dia em seguida os atos terroristas que depredaram a sede do tribunal, o Congresso e o Palácio do Planalto. Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom/Sucursal Brasil
Estirão na Terreiro dos Três Poderes
O presidente Lula convocou reunião com governadores e vice-governadores dos 26 estados e do Região Federalista. Depois encontro no Palácio do Planalto, todos saíram em estirão pela Terreiro dos Três Poderes até o Supremo Tribunal Federalista (STF).
Estavam na estirão a logo presidente do STF, ministra Rosa Weber, os ministros Luís Roberto Barroso, Dias Toffoli e Ricardo Lewandowski, além de ministros do governo federalista, governadores e parlamentares.
Na ocasião, Lula disse que os responsáveis pelos ataques seriam descobertos e punidos. “Nós vamos desenredar quem é que financiou. Tem gente financiando, tem gente que pagou para vir cá e tem gente que fomentou”, afirmou o presidente, encerrando o dia de reação da democracia contra aqueles que se diziam patriotas, mas se ocuparam de combater a pátria.