O presidente Luiz Inácio Lula da Silva destacou nesta quarta-feira (28), no fecho da 46ª Cúpula de Chefes de Governo da Comunidade do Caribe (Caricom), as agendas em generalidade do Brasil com os países da região e prometeu transfixar rotas de conexão e ampliar a parceria. “O Brasil voltou a olhar para seu entorno, consciente de que somente juntos lograremos uma inserção internacional robusta”, afirmou em Georgetown, na Guiana.
“Vemos no conjunto um parceiro econômico promissor e um interlocutor político estratégico. O Brasil já é o quinto maior fornecedor da Caricom. Nossa manante de negócio foi de US$ 2,7 bilhões no ano pretérito, mas já havia superado US$ 5 bilhões em 2008, o que demonstra seu potencial de desenvolvimento”, disse.
Segundo ele, a Dependência Brasileira de Promoção de Exportações (ApexBrasil) identificou mais de milénio oportunidades de inserção de produtos brasileiros nos países da Comunidade. “Ocorre que bens e serviços não circulam onde não há vias abertas. Belém, Boa Vista e Manaus estão mais próximas de capitais do Caribe do que de outras grandes cidades brasileiras”, acrescentou.
A Guiana exerce, durante o primeiro semestre de 2024, a presidência temporária do grupo. Estabelecida em 1973, a organização, com sede em Georgetown, procura promover a integração econômica, o desenvolvimento social, a coordenação da política externa e a cooperação em segurança entre seus membros. Ela é integrada por 15 países: Antígua e Barbuda, Bahamas, Barbados, Belize, Dominica, Granada, Guiana, Haiti, Jamaica, Montserrat, Santa Lúcia, São Cristóvão e Névis, São Vicente e Granadinas, Suriname e Trinidad e Tobago. Em extensão, os países da Caricom somam um território equivalente ao estado de Mato Grosso do Sul.
Sobre integração, o presidente destacou o projeto de início de estradas e outras formas de relação aérea, fluvial e marítima com os países da região.
“Nosso maior tropeço é a falta de conexões, seja por terreno, por mar ou pelo ar. Uma das rotas de integração e desenvolvimento prioritárias para meu governo é a do Escudo Guianense, que abrange a Guiana, o Suriname e a Venezuela. Queremos, literalmente, pavimentar nosso caminho até o Caribe. Abriremos corredores capazes de suprir as demandas de provimento e fortalecer a segurança cevar da região”, destacou.
O presidente comentou sobre o roupa de o Brasil e os países da Caricom convergirem em 80% das votações na Plenário Universal da ONU. E prometeu fazer uma doação financeira ao Banco de Desenvolvimento do Caribe, ao qual o Brasil se associou em 2020.
Combate à lazeira e às mudanças climáticas
Durante o oração, de aproximadamente 30 minutos, Lula abordou problemas centrais que atingem o Caribe, uma vez que a instabilidade cevar, que afeta metade da população caribenha, segundo o Programa Mundial de Vitualhas (PMA) das Nações Unidas e os efeitos das mudanças climáticas, que têm impactos ainda mais graves em países insulares e tropicais.
“Quero ressaltar que esses dois problemas estão no meio dos debates travados pelo Brasil nos fóruns internacionais. Quero ressaltar também que esses dois problemas têm a mesma raiz: a desigualdade. Portanto, a luta do contra a desigualdade no mundo é também a luta das populações caribenhas. Não é verosímil que num planeta que produz comida suficiente para cevar toda a população mundial, murado de 735 milhões de seres humanos não tenham o que consumir”, observou.
O presidente aproveitou para criticar e cobrar que os países ricos, os que mais poluíram o planeta ao longo dos últimos séculos para se industrializar, até o momento não cumpriram a promessa de financiar a transição ecológica e para adaptação das nações mais pobres.
“Não é verosímil que os países ricos, principais responsáveis pela crise climática, continuem descumprindo o compromisso de destinar US$ 100 bilhões anuais aos países em desenvolvimento, para o enfrentamento da mudança do clima. Não é verosímil que o mundo gaste por ano US$ 2,2 trilhões em armas”.
Citando o repto brasiliano de sediar a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP), que será realizada em Belém, daqui a dois anos, o presidente pediu união de esforços para executar a meta de manter o aumento da temperatura global em até 1,5º C acelerando a implementação dos compromissos já assumidos e adotando metas mais ambiciosas em 2025.
Lula falou também sobre o impacto das guerras em curso no planeta e que causam ruína, sofrimento e mortes, sobretudo de civis inocentes, e citou a guerra na Ucrânia, que, segundo ele, “encarece os preços dos vitualhas e dos fertilizantes”, e o conflito na Tira de Gaza, que ele voltou a classifcar uma vez que genocídio.
“Um genocídio na Tira de Gaza afeta toda a humanidade, porque questiona o nosso próprio tino de humanidade. E confirma uma vez mais a opção preferencial pelos gastos militares, em vez de investimentos no combate à lazeira; na Palestina, na África, na América do Sul ou no Caribe”, disse.
Agenda no Caribe
Durante a estadia na Guiana, Lula se reunirá com o dirigente de governo do país vizinho, Irfaan Ali, quando deve abordar a crise entre Guiana e Venezuela pelo território de Essequibo, disputado pelos dois países. Há também uma agenda de trabalho marcada com Ali e o presidente do Suriname, Chan Santokhi, para tratar de temas de interesse trilateral, uma vez que pujança e integração da infraestrutura física e do dedo. Lula ainda se encontrará também com a primeira-ministra de Barbados, Mia Mottley.
Da Guiana, na quinta-feira (29), Lula viaja para o pequeno país isolar caribenho de São Vicente e Granadinas, onde participará, no dia 1º de março, da início da 8ª cúpula da Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac), que será realizada em Kingstown, a capital.
Apesar de ser um dos países fundadores da Celac, o governo anterior do Brasil deixou a comunidade, composta por 33 países. A reintegração ao conjunto foi uma das primeiras medidas de política externa do presidente Lula no início de 2023, ao assumir o terceiro procuração.