Com a presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o prefeito carioca, Eduardo Paes, inaugurou nesta sexta-feira (23) o Terminal Intermodal Gentileza (TIG), levantado nas imediações da Rodoviária do Rio, na zona portuária, e que será o maior terminal integrador de transporte público do Rio de Janeiro.
Quando estiver em plena operação, o TIG permitirá que os passageiros cariocas possam acessar, dentro do terminal, o novo BRT Transbrasil, duas linhas do Veículo Ligeiro sobre Trilhos (VLT), que ligarão o terminal ao Aeroporto Santos Dumont e às barcas, na Rossio 15, e 14 linhas de ônibus municipais regulares para diversos bairros da cidade. A estimativa é que mais de 150 milénio pessoas passem pelo terminal todos os dias. Amanhã (24), a prefeitura iniciará a operação gradual da Transbrasil, abrindo o TIG para o público.
O TIG recebeu o nome Gentileza em homenagem a José Datrino, mais publicado uma vez que Vate Gentileza. Datrino foi um pregador urbano que se tornou publicado no Rio de Janeiro por fazer inscrições nas pilastras do Viaduto do Gasômetro. Ele andava pela zona médio da cidade com uma túnica branca e longa barba. Sua frase mais conhecida era “Gentileza gera gentileza”.
O prefeito Eduardo Paes informou que a estimativa é reduzir em mais de 50% o tempo de deslocamento das pessoas. A obra, que ficou quatro anos paragem, foi feita para integrar a região metropolitana do Rio. Com recursos da prefeitura e do governo federalista, os investimentos no projeto alcançaram R$ 2 bilhões.
Referindo-se à gentileza pregada pelo vaticinador urbano, Paes salientou a urgência de que o povo cuide agora dessa obra e da cidade.
Terminal Intermodal Gentileza começa a operar neste sábado – Tânia Rêgo/Dependência Brasil
Atenção próprio
Embora ame todas as cidades brasileiras, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que o Rio de Janeiro merece atenção próprio, não só por ter sido capital do Brasil desde a chegada de Dom João VI de Portugal ao Brasil, em 1808, até a República, em 1889, e daí até a transferência da sede do país para a Região Núcleo-Oeste, em 1961. Em muitos momentos, o Rio sofreu pela irresponsabilidade de governantes, pelo aumento da pobreza e da ocupação desordenada, mas é a porta de ingresso do país, assegurou o presidente. “O Brasil tem uma dívida com o Rio”, afirmou.
Lula lembrou que o contrato com a Caixa para a obra do BRT Transbrasil foi assinado em 2013 e somente agora, posteriormente 11 anos, a construção teve impulso.
Fases
O galeria expresso Transbrasil ligará Deodoro, na zona oeste, ao meio do Rio, passando por 18 bairros e prevendo transportar 250 milénio pessoas por dia até 2030. Esse é o quarto galeria de BRT a ser inaugurado na cidade, ampliando o sistema de transporte de subida capacidade, que já opera com Transoeste, Transcarioca e Transolímpica.
Em uma primeira tempo, que se estenderá até 30 de março, o Transbrasil vai operar entre Penha, na zona setentrião, e o Terminal Gentileza, no horário das 12h às 14h, com intervalos de 10 minutos entre as viagens e tempo de trajectória de 20 minutos. O galeria terá risca executiva para o Aeroporto do Galeão. A partir de 30 de março, o BRT Transbrasil começará a operar de Deodoro ao Terminal Gentileza, com horário mais ampliado, das 10h às 15h.
Vate Gentielza
José Datrino, ou Vate Gentileza, nasceu em Cafelândia (SP) em 11 de abril de 1917 e morreu em Mirandópolis (SP), no dia 29 de maio de 1996. Desde sua puerícia José Datrino apresentava um comportamento atípico. Por volta dos treze anos de idade, passou a ter premonições sobre sua missão na terreno, na qual acreditava que, um dia, depois de constituir família, filhos e bens, deixaria tudo em prol de sua missão.
No dia 17 de dezembro de 1961, ocorreu um incêndio no Gran Circus Setentrião-Americano, na cidade de Niterói, região metropolitana do Rio, em que morreram mais de 500 pessoas, a maioria, crianças. Seis dias depois, Datrino acordou alegando ter ouvido “vozes astrais”, que o mandavam deixar o mundo material e se destinar exclusivamente ao mundo místico. Ele se dirigiu para o lugar do incêndio, onde plantou jardim e quintal sobre as cinzas do circo. Ali morou por quatro anos. No lugar, José Datrino incutiu nas pessoas o real sentido das palavras “Grato” e “Gentileza”. Confortou de forma voluntária os familiares das vítimas da tragédia com suas palavras de clemência. Dali em diante, passou a se invocar “José Grato”, ou “Vate Gentileza”.
A partir de 1970, tornou-se andarilho. Era visto em ruas, praças, nas barcas da travessia entre as cidades do Rio de Janeiro e Niterói, em trens e ônibus, fazendo sua pregação e levando palavras de paixão, clemência e saudação pelo próximo e pela natureza a todos que cruzassem seu caminho. O Vate Gentileza também oferecia flores para as pessoas que cruzavam seu caminho nas ruas do Rio de Janeiro.
Murais
A partir de 1980, escolheu 56 pilastras do Viaduto do Gasômetro, que vai do Cemitério do Caju até o Terminal Rodoviário do Rio de Janeiro, numa extensão de aproximadamente 1,5 quilômetro, e encheu as pilastras com inscrições em verde-amarelo, propondo sua sátira do mundo e sua selecção ao mal-estar da cultura. Nos anos de 2000, os murais foram tombados pelos órgãos de proteção da prefeitura do Rio de Janeiro mas, em 2016, foram objeto de atos de vandalismo. Faleceu em Mirandópolis, cidade de seus familiares, onde foi sepultado.
No final do ano 2000 foi publicado pela Editora da Universidade Federalista Fluminense (EdUFF) o livro Brasil: Tempo de Gentileza, de autoria do professor Leonardo Guelman, que introduz o leitor no “universo” do Vate Gentileza através de sua trajetória, da estilização de seus objetos, sua letra uno e de todos os painéis criados por ele. Em 2001, Gentileza foi enredo da Escola de Samba Acadêmicos do Grande Rio. Em 2022, a prefeitura do Rio anunciou que o novo terminal de VLT, BRT e ônibus, localizado nas proximidades das suas pinturas, teria o nome de Terminal Intermodal Gentileza.
O vaticinador foi homenageado na música pelo compositor Gonzaguinha, nos anos 1980; e também pela cantora Marisa Monte, nos anos 1990, com canções que levam o nome Gentileza. Em 2000, na cidade de Mirandópolis (SP), onde está enterrado, Gentileza batizou a primeira organização não governamental (ONG) da cidade Gentileza Gera Gentileza, fundada por parentes e amigos que admiravam sua filosofia de vida. Além de lembrar a pessoa de José Datrino, a ONG tinha a missão de difundir instrução e cultura em toda a região. (Alana Gandra)