Muita gente questiona por que a chuva oriunda de enchentes lentidão tanto tempo a encolher de nível na Baixada Fluminense, mesmo com dias de sol e calor intenso. Na avaliação do professor de Recursos Hídricos do Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia da Universidade Federalista do Rio de Janeiro (Coppe/UFRJ), Paulo Canedo, a resposta é simples: o sistema de drenagem não está funcionando.
Falando à Filial Brasil nesta quinta-feira (18), Canedo explicou que as comportas não estão funcionando e, porquê não tem tido manutenção no sistema nos últimos dez anos, a infraestrutura implantada ficou inoperante. “Com a chuva poderoso que caiu no último final de semana (dias 13 e 14 deste mês), com grande volume precipitado, a estrutura que foi criada para proteger a região da Baixada, não funcionando, não deu conta do recado e não consegue botar para fora (a chuva acumulada)”, disse.
A isso se somam o problema da poluição, o acúmulo de lixo e o assoreamento de rios, admitiu. “A questão do lixo também contribui para isso. O mau trato que a população dá ao sistema é grande. E isso contribui para que fique ruim. Porque entra lixo e isso motivo problema”. Destacou, porém, que, independente disso, se o sistema estivesse operando, o problema seria “muitíssimo” menor. “Você tem a conjugação de três coisas importantes: a chuva com volume muito grande; o sistema que foi implementado para escoar não está funcionando, por falta de manutenção nos últimos dez ou 12 anos; e a população não tem feito também sua imposto de não jogar lixo nos rios, nas ruas, para não obturar os bueiros. A conjugação desses três efeitos gera esse caos que gerou”.
Inferior do nível do mar
Procurado pela Filial Brasil para explicar a razão da chuva demorar tanto a escoar nos municípios da Baixada Fluminense, o Instituto Estadual do Envolvente (Inea) informou em nota que, “geograficamente, a Baixada Fluminense está situada aquém do nível do mar da Baía de Guanabara. Devido à sua localização, essa região pode suportar com inundações e ter dificuldade para escoar a chuva, quando há um aumento excessivo do nível da chuva da Baía”. O Inea comunicou ainda que instalou três bombas no bairro do Pilar, em Duque de Caxias, que “irão ajudar a trasbordar toda a chuva acumulada”.
“Isso tudo é verdade”, assegurou Paulo Canedo. Mas esclareceu que o vestimenta de ser baixa e plana, porquê o próprio nome diz, não implica que a Baixada Fluminense tenha inundações. “Muito mais baixa que a Baixada é a Holanda e nem por isso o país fica debaixo d’chuva”. O mesmo acontece com Veneza, na Itália, e nem sempre a cidade fica debaixo d’chuva, completou. Reconheceu, por outro lado, que a Baixada não tem um relevo e uma situação que sejam confortáveis. “Mas se as coisas que lá foram construídas estivessem funcionando, ela teria oferecido conta do recado”, apontou.
Projeto Iguaçu
Entre os anos de 2005 e 2006, a Coppe atuou no Projeto Iguaçu, em cooperação com o governo fluminense, para solucionar o problema das enchentes. O projeto abrangia extensão de 726 quilômetros quadrados e objetivava promover a recuperação ambiental das bacias da Baixada e da zona oeste do Rio de Janeiro, envolvendo os rios Iguaçu, Botas e Sarapuí, para controlar as constantes inundações.
Seriam contemplados os municípios de Novidade Iguaçu, Mesquita, Belford Roxo, Nilópolis, São João de Meriti e Duque de Caixas e os bairros cariocas de Bangu e Senador Camará.
Incluído no Programa de Aceleração do Incremento (PAC), do governo federalista, o projeto recebeu R$ 270 milhões da União para a realização de sua primeira lanço e foi indigitado porquê “o melhor projeto apresentado ao PAC” até portanto.
À Filial Brasil, o professo Paulo Canedo afirmou que o Projeto Iguaçu existe ainda, é um projeto de longo prazo e tem de ser feito aos poucos. “Foi implementado com razoável força até 2012 e, depois, tivemos um má sorte, porque o Brasil ficou em uma situação ruim com a crise econômica, tivemos uma crise econômica no estado do Rio de Janeiro e não nos livramos dessa crise”.
Por isso, afirmou que às três causas abordadas anteriormente (chuva em volume saliente, lixo amontoado e falta de manutenção no sistema) junta-se uma quarta motivo que “é o má sorte de pegar o estado em uma situação ruim, não por culpa deste governo específico, mas por conta da história do estado que teve uma crise que impediu que os investimentos fossem feitos. As obras que foram construídas e custaram custoso para a população foram se estragando e a chuva deu o golpe final”.
Retomada
Canedo assegurou que existe possibilidade de o Projeto Iguaçu ser retomado. “É uma conquista que a sociedade fez que não volta detrás”. Ele acredita que os próximos governos vão dar seguimento ao projeto, “com alguns retoques, mas o Projeto Iguaçu continuará. Foi interrompido pela crise financeira do Brasil e do estado. Por isso, as coisas não aconteceram. Mas tão logo o estado e a região se recuperem financeiramente, os investimentos voltarão.”
Segundo Canedo, a paralisação do Projeto Iguaçu “pegou a Baixada de calça curta, com essa chuva”. Ele continua fazendo secção do PAC. Analisou que por maiores que sejam as dificuldades que o estado e o país vivenciem, não podem despovoar as conquistas feitas, referindo-se ao Iguaçu. “Se o estado fez um investimento em resguardo contra inundação, ele pode parar de ampliar essa resguardo, mas não pode despovoar o que já foi feito, porque, senão, você perde o lucro feito.”
No Projeto Iguaçu, obras físicas, porquê barragens e diques, e serviços, porquê as dragagens, eram definidos a partir de uma estudo da bacia hidrográfica porquê um todo e não exclusivamente dos pontos de alagamentos. De contrato com o professor da Coppe, isso evitaria que se fizessem obras que não resolviam problemas, mas exclusivamente os trocavam de lugar. Um exemplo seriam barragens que, ao represarem a chuva do rio em um ponto, pudessem motivar inundações em outros locais que, anteriormente, ficavam secos.