No período de 2010 a 2019, a parcela de estudantes negros que estavam atrasados na escola, ou seja, que se encontravam naquilo que profissionais do meio da instrução chamam de distorção idade-série, era de 7,6% nos anos iniciais do ensino fundamental. Ou seja, um a cada seis, proporção bastante dissemelhante da de brancos, que era de um a cada 13. Esse é um dos dados destacados pelo Núcleo de Estudos e Dados sobre Desigualdades Raciais (Cedra), que mostra porquê o racismo estrutural também chega às salas de lição, apesar de a população brasileira ser predominantemente negra.
Esse oferecido, em específico, consta do Recenseamento Escolar – Ensino Básica (2012-2019), elaborado pelo Instituto Pátrio de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep). Em relação às turmas de ensino médio, as médias das porcentagens ao longo dos anos compreendidos foram, respectivamente, de 16,8% e 7,6%.
Quanto ao ensino médio, o mesmo período de estudo gerou uma média de 36% para negros e 19,2% para brancos. Isso significa que a cada três estudantes negros um apresentava distorção idade-série, contra um a cada cinco, no caso dos estudantes brancos.
Tanto no ensino fundamental porquê no médio, o que se constatou foi uma queda da disparidade entre negros e brancos, ao longo dos anos, no período analisado. Todavia, a diferença ainda permaneceu, o que revela a persistência da desigualdade.
O Recenseamento do Inep também apurou que, entre 2010 e 2019, em média, 78,5% dos estudantes negros eram aprovados no ensino médio. A proporção de brancos era de 85%.
Outro oferecido enfatizado pelo estudo, e que é prova da assimetria social entre os dois grupos, diz saudação ao perfil de estudantes de instituições com maioria de ricos. Tais escolas tinham dois terços de alunos brancos.
Sem dúvidas, porquê se pode imaginar, a estrutura das escolas também faz com que as notas e a aprendizagem possam ser piores ou melhores, conforme as condições em que funciona, aponta o estudo. Entre 2013 e 2019, exclusivamente 33,2% dos professores do ensino fundamental nas escolas predominantemente negras tinham formação adequada, de superior em licenciatura ou equivalente na disciplina que ministravam. Nas escolas com maioria de alunos brancos, o percentual era quase o duplo, de 62,2%.
No que diz saudação à subdivisão entre escolas públicas e privadas, a presença de estudantes brancos que tinham entrada, em 2019, ao ensino privado, que é, muitas vezes, muito superior ao oferecido pela rede pública, aumentando as chances de seguirem até o ensino superior, era 2,6 maior do que a de alunos negros.
Os especialistas do Cedra também recapitularam dados com semelhante recorte a partir da Pesquisa Pátrio de Modelo de Domicílios Contínua (Pnadc), do Instituto Brasílico de Geografia e Estatística (IBGE). Um deles diz saudação ao ingresso de mulheres nas universidades. O que se viu foi que mulheres brancas de 18 a 24 anos de idade eram quase o duplo das mulheres negras. Eram 29,2%, contra exclusivamente 16,5% de universitárias negras, de 2016 a 2019. Nesse pausa, a parcela de negras aumentou levemente, de 15,2% para 16,9%, enquanto a de brancas permaneceu praticamente igual, mudando de 29% para 29,4%.
A versão que o físico e docente Marcelo Tragtenberg faz, com relação aos dados compilados, é de que “o Brasil está oferecendo ensinos diferentes para negros e brancos”.
“Houve um esforço, mas a desigualdade racial persiste. A gente vê uma resistência no sistema educacional à isenção racial”, afirma. “Quanto mais a gente olha, mais se torna triste e surpreendente”, acrescenta.
Há dados, segundo ele, que ainda são negligenciados, apesar de revelar muito sobre o cenário e os desafios que o país tem diante de si. É o caso da distorção idade-série. “Os estudantes negros estão mais acumulados nas séries iniciais, não progridem na mesma velocidade que os brancos”, enfatiza Tragtenberg, que integra o Recomendação Deliberativo do Cedra.